Toxicologia Ambiental: Água do ABC Paulista pode estar contaminada com metais e praguicidas

8 anos atrás

O portal de produtos perigosos noticiou os resultados das análises de água da Sabesp no ABC paulista, onde metais pesados e agrotóxicos foram detectados na água já tratada pela Estação de Tratamento de Água (ETA) Rio Grande, e que abastece as torneiras da população dos municípios de São Bernardo do Campo, Diadema e de metade de Santo André. Nas amostras analisadas, entre 2012 e 2015, a água da ETA Rio Grande foram detectados, dentre outros, glifosato (agrotóxico) e metais como cádmio, chumbo e níquel. Todos estes são produtos químicos conhecidamente tóxicos, porém o que mais preocupa é que as análises mostraram que o chumbo está 40% acima do Valor Máximo Permitido (VMP) estabelecido pela portaria 2.914:2011 do Ministério da Saúde – que trata da potabilidade da água. 

Algumas características destes metais perigosos são:

 
Cádmio: a ação tóxica do cádmio deve-se à sua afinidade por radicais dos grupos SH, OH, carboxilo, fosfato e outros e à sua ação competitiva com outros elementos funcionais essenciais tais como o Zn, Cu, Fe e Ca. As suas principais  interações são: (i) a união forte do cádmio aos grupos -SH das proteínas intracelulares que inibem as enzimas que possuam esses grupos e (ii) a quebra das ligações sulfídricas e libertação do zinco com consequente alteração enzimática e processos bioquímicos. (VMP: 0,005 mg/L)
 
Chumbo: a principal exposição ao chumbo resulta do consumo alimentar, especialmente da água. A maioria das intoxicações por este metal é lenta e gradual e ocorre devido à sua exposição e acumulação. Ele interfere na biossíntese do Heme: Inibe a enzima citoplasmática desidratase do ácido delta- aminolevulínico (ALA-D), inibe a enzima mitocondrial Ferroquelatase (incorporação do Fe ao Heme), deficiência em Hemoglobina, causa anemia hipocrômica, causa a alteração da fisiologia do eritrócito (membrana/met. energético) menor duração da célula, é inibidor da bomba de Sódio-Potássio,  inibe a Pirimidino-5-nucleotidase (pontilhado basófilo/RNA degradado acumulado). (VMP: 0,001 mg/L)
 
Níquel: O níquel interage com receptores de íons em locais diferentes do organismo, induzindo um mecanismo de lipoperoxiredução onde um mecanismo indireto, mediado pelo Ni2+, deslocando Fe2+ ou Cu2+ a partir de sítios ligantes intracelulares, resultando nas reações de lipoperoxidação de Fenton e Haber-Weiss, catalisadas por Fe2+/Fe3+ ou Cu+/Cu2+;  a reação de oxirredução Ni2+/Ni3+ gera diretamente radicais livres pela transferência de um elétron; o Ni2+ acelera a degradação de hidroperóxidos lipídicos para formar radicais lipol-O· e propagar reações peroxidativas autocatalíticas de ácidos graxos;  outro mecanismo sugerido é que o níquel, ao inibir as células de defesa contra os danos da peroxidação, depletaria a glutationa, a catalase, a superóxido dismutase e outras enzimas que protegem da injúria provocada pelos radicais livres. Em estudos de curto e longo prazo com animais, observou-se que o níquel está concentrado principalmente nos rins. As concentrações teciduais de Ni, em ordem decrescente, são: rins> pulmões> fígado> coração > testículos. (VMP: 0,07 mg/L).

De acordo com o ministério público água potável é a água que atenda ao padrão de potabilidade estabelecido nesta Portaria n° 2.914:2011 e que não ofereça riscos à saúde.

Com base nesta afirmação verificamos a necessidade de cobrar efetivo monitoramento e transparência dos órgãos fiscalizadores de modo a garantir segurança à população. Também são necessárias medidas contínuas para conscientizar e mudar a realidade brasileira, que aparentemente pouco se importa com o descarte inadequado de lixo e resíduos em rios e lagos, acreditando que a estação de tratamento recupera essa contaminação. Com isso, estamos nos contaminando com substâncias extremamente tóxicas, capazes de causar danos irreversíveis no organismo, especialmente quando nos expomos a longo prazo. A preservação da água deve ser visto como obrigação de todos.


Referências

AZEVEDO, Fausto Antonio de; CHASIN, Alice A. da Matta. Metais: Gerenciamento da Toxicidade. São Paulo: Atheneu, 2003. BRASIL. Ministério da Saúde. Dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade. Portaria nº 2.914, de 12 de dezembro de 2011. 

CLIPPING. Água da Sabesp chega ao ABC paulista contaminada por metais pesados e agrotóxicos. Disponível em: http://www.produtosperigosos.com.br/lermais_materias.php?cd_materias=4395&friurl=:-Agua-da-Sabesp-chega-ao-ABC-paulista-contaminada-por-metais-pesados-e-agrotoxicos: Acesso em: 07 out. 2015.
ROCHA, Adriano Ferreira da. Cádmio, Chumbo, Mercúrio – A problemática destes metais pesados na Saúde Pública? 2009. 1 v. Monografia (Especialização) – Curso de Ciências da Nutrição, Universidade de Porto, Porto, 2009.
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