Artes e valores do lixo

10 anos atrás

O setor mundial de resíduos sólidos deve fechar 2013 com investimentos da ordem de US$ 20,9 bilhões. Crescendo a espantosa média de 70% ao ano, tem previsão de ultrapassar US$ 30 bilhões de investimentos em 2014, sendo responsável por 8% das emissões totais de CO2. Os projetos lideres de recuperação energética, resíduos a partir de biomassa, processamento e reciclagem de resíduos, absorveram US$ 11,3 bilhões em 2013, contra US$ 5,6 bilhões, em 2012; e US$ 2,3 bilhões, em 2011. Toda essa velocidade de crescimento é insuficiente para atender a demanda empurrada pelo aumento na geração de resíduos e o fato de 50% da população mundial não dispor de sistemas de coleta de resíduos, segundo dados do WWI-Worldwatch Institute.

No Brasil, o prazo determinado pela Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS (Lei 12.305/10), estabelecendo princípios, objetivos, instrumentos e diretrizes da gestão integrada e gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos responsabilidades dos geradores e do poder público; encerra-se em agosto de 2014 para destinação inadequada de
resíduos.

Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) o Brasil ainda não conseguiu universalizar a coleta de resíduos sólidos urbanos e destina grande volume de resíduos a locais inadequados e precisa investir R$ 6,7 bilhões na gestão de resíduos sólidos de forma diferenciada. Enquanto na região Sul são necessários investimentos de R$ 0,05 por habitante/dia para regularizar a situação, no Nordeste o valor pula para R$ 0,14 por habitante/dia, no período de um ano.

Em 2012, mais de 23 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos foram enviados para aterros inadequados que têm o mesmo impacto negativo dos lixões. De acordo com a Abrelpe, ainda há milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos com destinação inadequada no país onde, até 2020, 90% da população viverão nas cidades (28% em
favelas). Só o setor da construção civil que emprega 3,3 milhões de trabalhadores formais e movimenta 6% do PIB brasileiro, responde sozinho por 50% a 70% dos resíduos, gerados nas obras.

Enquanto isto, o mundo avança transformando resíduos em oportunidades de negócios sustentáveis, benéficos à sociedade e altamente rentáveis. O X Fórum de Mídia Internacional sobre Proteção à Natureza, teve como tema “Um Futuro sem Lixo”, reunindo na Itália especialistas, artistas e jornalistas especializados em resíduos de todo o mundo. Convidado para a abertura, Gary Gardner, pesquisador do WWI, mostrou como recursos naturais estão se tornando escassos e mais caros. “Estamos jogando dinheiro fora. Precisamos de cadeias econômicas inteligentes e
circulares”, disse, referindo-se a ciclos onde os resíduos são reabsorvidos em sua própria produção.

Cidades estão descobrindo com os artistas – precursores do seu tempo – que até o orçamento público da educação pode ser abastecido com recursos desperdiçados desses resíduos que teimamos em chamar de “lixo” (do latim, lix, cinza). “Nova York produz diariamente 11,8 toneladas de lixo e eu recolho tudo isso”, extrapola Justin Gignac, um artista que faz sucesso lá recolhendo e colocando lixo cru em pequenas caixas transparentes, transformado em arte e vendido por 100 dólares.

Em Salvador, cidade berço do Brasil, a arte mágica de Bel Borba dá vida e valor ao lixo, transformando azulejos quebrados em gaivotas voadoras, garrafas pet em cachorros, ferros velhos em Ayrtons Sennas, mostrando realidades e utopias concretas percebidas pelos artistas. Se convidados pelas escolas públicas, Justin Gignac e Bel Borba ensinarão
suas mágicas a alunos, professores e, inclusive, a gestores públicos e privados, revelando, através da dimensão da arte, valores perdidos no lixo.
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