Afeganistão: envenenamentos coletivos com fins políticos?

12 anos atrás

Escrito por Fausto Azevedo | 26 Abril 2010

Igualdade de gêneros. Liberdade de cultos, crenças e opiniões. Liberdade para ir e vir. Liberdade para estudar, aprender e prosperar. É sonhar demais? Um tal ideário seria inviável? Mas ele não deve ser a essência do projeto humano? Pode-se impedir, por dogmas religiosos e sexismo, a oportunidade de vida futura de jovens?

E mais ainda: pode-se usar o conhecimento científico e tecnológico para impor uma vontade unilateral e abusiva, de forma despótica e criminosa?

A guerra química, medonha sob todos os aspectos, não é nenhuma novidade. Já em 600 a. C., atenienses envenenam, com raiz de heléboro, águas usadas para beber pelo inimigo. Em 200 a. C., Cartago derrota adversários ao deixar-lhes tonéis de vinho contaminados com mandrágora, raiz que produz sono narcótico. E assim por diante. Preocupados, governantes, em 1675, em Estrasburgo, assinam acordo franco-germânico proibindo o uso de balas envenenadas; em 1874, a Convenção de Bruxelas é adaptada para fazer estancar o uso de armas envenenadas; em 1899, Conferência Internacional de Paz, em Haia, estabelece acordo mundial declarando ilegal o uso de projéteis com gases venenosos. A despeito disso, no século XIX surge a Guerra Química moderna: bombas incendiárias de arsênico que liberavam nuvens de fumaça tóxica nas linhas inimigas foram empregadas. Em meados dos anos 1960, os EUA atingem um pico no uso do famigerado Agente Laranja, na guerra da Indochina. Utilizado como desfolhante, tratava-se de mistura dos herbicidas 2,4-D e 2,4,5-T e continha dioxinas e furanos como impurezas. Segundo a Administração de Veteranos dos EUA, até 4,2 milhões de soldados podem ter entrado em contato com o agente. O uso se estendeu até 1971.

 

Médico no hospital de Kunduz, Afeganistão, assiste uma das alunas internadas

Todavia, parece que o ser humano insiste em não aprender e prossegue em seu circo de horrores. Mais tétrico ainda é o possível uso de agentes tóxicos para evitar que meninas possam freqüentar a escola e dar vazão a suas potencialidades intelectuais. Eis o caso: em atualização de 25/abril, no msnbc (http://www.msnbc.msn.com/id/36766873/ns/world_news-south_and_central_asia/), confe-rimos, chocados, a notícia de que, no Afeganistão, o Taliban e outros grupos conservadores, contrários à ida de meninas à escola, estariam usando substâncias químicas (gases? vapores?) para prejudicá-las e quebrarem sua determinação de aprender, afastando-as dos locais de ensino. Aí está um uso absolutamente indevido e condenável da toxicidade de substâncias químicas. Isso, se de fato praticado, envergonha-nos – a nós e à Ciência Toxicológica, área nobre do conhecimento humano decotada a conhecer e domesticar o risco toxicológico em benefício da saúde e da qualidade de vida de pessoas e de populações. Sacudamo-nos e condenemos tal fato. Sempre!

Fausto Azevedo
Diretor da Intertox
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