A comunicação da sustentabilidade

A comunicação da sustentabilidade

Ricardo Voltolini, em artigo denominado Onze tendências de comunicação da sustentabilidade[1], recentemente publicado, questiona a respeito de Como as empresas estão comunicando a sustentabilidade no mundo? Ele próprio responde, a partir do emprego de uma metodologia apropriada, destacando onze tendências de comunicação, que são:

1) Consumidores exigentes, mais comunicação

2) Inovação puxa comunicação de produtos

3) A velha história da lição de casa primeiro…

4) Mensagem valoriza desempenho do produto, o bolso do consumidor e a contribuição para o planeta. Tudo ao mesmo tempo

5) Simples é melhor

6) Verificação externa funciona como avalista

7) Natural em alta

8) Redes sociais, aí vamos nós

9) Preferindo o todo, em vez das partes

10) O que focam as mensagens

11) Marcas sustentáveis mobilizam consumidores, empregados e parceiros.

Trata-se, indiscutivelmente, de um novo decálogo, acrescido de mais uma consideração. Decálogo tanto no sentido moral quanto no litúrgico. Há alguns milhares de anos atrás, uma então incipiente civilização humana de fato necessitava de um código de conduta, até de alguma rigidez, para bem se sair em seu desafio por uma viabilização da espécie, espécie social, no planeta. Este planeta, naquele então, era virgem e vigoroso, pleno de formas, cores e saúde, aparentemente inatingível por qualquer ação antrópica. Ainda que decaído em relação ao suposto paraíso original era, em si, um paraíso…

Porém, as épocas passaram. Houve tempo suficiente para se acumular uma inteligência criadora, o que, aliás, em muitas áreas aconteceu, como na literatura, na poesia, na música, nas belas artes. Contudo, parece que na economia e na administração, passando por aí a Ciência e Tecnologia, o mesmo não se deu. Bradaram ofendidíssimos muitos, mas se isso não fosse verdade certamente não estaríamos vivendo hoje uma situação definitivamente crítica quanto aos recursos naturais do planeta, sua ecologia e garantias de manutenção sustentável.

Então, mais do que as boas onze regras do Ricardo Voltolini, mais do que a tábua dos mandamentos, precisamos de verdadeiras ideologias.

Desde 1962, apenas para se fixar um início, com o hoje sagrado livro Primavera Silenciosa[2], de Rachel Carson, passando depois por importantíssimo marcos como o do Clube de Roma (1968) e a posterior publicação de Os limites do crescimento[3], e o acontecimento da reunião da ONU em Estocolmo, sobre o Ambiente Humano[4], que se fez subordinada ao tema “o homem e seu meio: as bases de uma vida melhor” (ambos em 1972); as Convenções de Berna[5] sobre a Vida Selvagem e os Habitats Naturais na Europa e a de Genebra[6] sobre Poluição Atmosférica (ambas de 1979); o Protocolo de Helsinque sobre Qualidade do Ar (1983); a criação da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1984); o protocolo de Montreal[7] sobre substâncias destruidoras da camada de ozônio e a publicação do relatório O Nosso Futuro Comum[8], da Comissão Brundtland da ONU (ambos em 1987); o Livro Verde da Comissão sobre o desenvolvimento da normalização europeia: ações para uma integração tecnológica mais rápida na Europa e o Livro Verde sobre o ambiente urbano: comunicação da Comissão ao Conselho e ao Parlamento (ambos de 1990) e sua sequência[9]; os acordos decorrentes da reunião da ONU no Rio, a afamada Eco 92[10] (1992); a criação da Agência Ambiental Européia[11] (1994); o Protocolo de Kyoto[12] sobre o aquecimento global (1997); a reunião da ONU em Joanesburgo[13] (2002); e o novo encontro da ONU sobre Desenvolvimento sustentável, a Rio+20[14], que ocorrerá no Rio de Janeiro, de 4 as 6 e junho de 2012; até formulações filosóficas, como as apresentadas, dentre outros, por Arne Naess e por Felix Guattari, o tema desafiante do viver sustentável tem-se imposto.

No Brasil, relativamente ao segmento empresarial, é digna de nota a criação e a atuação do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS)[15].

Por fim, o que se pode extrair da leitura das onze tendências oportunamente apontadas por Voltolini e dessa brevíssima linha do tempo para a sustentabilidade acima rascunhada é que tal preocupação: (i) veio para ficar, (ii) é inerente à continuação da vida no planeta, (iii) é sinal de amadurecimento da inteligência e da cidadania humanas, (iv) pertence à classe empresarial, a governos e à sociedade em seu todo, (v) está acima de blocos econômicos e de países, (vi) está acima de religiões e de partidos políticos, (vii) envolve todos os aspectos dos impactos ambientais de causação humana (desmatamentos, assoreamentos, mudanças físicas dos ambientes, desertificação ocasionada, contaminação química e biológica, etc.) e sua corrente precedente de origem (consumismo exacerbado, acumulação de riqueza e poder, etc.), (viii) é fortemente reeducadora e, por isto, demanda desde já o replanejamento estratégico de ações educacionais e de pesquisa em ciência e tecnologia, pesquisa e desenvolvimento, (ix) implica numa nova atitude participativa e democrática, assegurado o amplo e universal direito à informação, em todos os níveis,(x) propõe o rompimento com as tradicionais práticas de consumo até aqui vistas, e (xi) coloca mais em voga o biocentrismo e a ecosofia


[1] Revista Idéia Sustentável, Ed. 22, dez/2010, p. 41-3.

http://www.gife.org.br/artigo-onze-tendencias-de-comunicacao-da-sustentabilidade-14094.asp

[2] Ver a interessante linha do tempo da obra publicada em http://www.google.com/search?q=primavera+silenciosa&hl=pt-BR&client=gmail&sa=X&rls=gm&tbs=tl:1,tl_num:100&prmd=ivnsb&ei=ZJaHTerAGsv3gAfTnsDTCA&ved=0COEBEMsBKAQ

[3] MEADOWS, D.H.; MEADOWS, D.L.; RANDERS, J. The limits to growth: a report for the Club of Rome’s Project on the predicament of mankind. New York: Universe Books and Potomac Associates, 1972. 21p.

[4] Ver http://www.unep.org/Documents.Multilingual/Default.asp?documentid=97

[5] Ver http://europa.eu/legislation_summaries/environment/nature_and_biodiversity/l28050_pt.htm

[6] Ver http://www.apambiente.pt/INSTRUMENTOS/CONVENCOESACORDOSMULTILATERAIS/CLRTAP/Paginas/default.aspx

[7] Ver http://ozone.unep.org/

[8] Ver http://en.wikipedia.org/wiki/Our_Common_Future e http://www.un.org/documents/ga/res/42/ares42-187.htm

[9] Ver http://europa.eu/documentation/official-docs/green-papers/index_pt.htm

[10] Ver http://www.un.org/geninfo/bp/enviro.html

[11] Ver http://www.eea.europa.eu/

[12] Ver http://unfccc.int/resource/docs/convkp/kpeng.html

[13] Ver http://www.un.org/jsummit/ e http://www.un.org/esa/dsd/index.shtml?utm_source=OldRedirect&utm_medium=redirect&utm_content=dsd&utm_campaign=OldRedirect

[14] Ver http://www.uncsd2012.org/rio20/index.php?menu=47

[15] Ver http://www.cebds.org.br/cebds/

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